Para co-fundador da Apple, tecnologia precisa se adaptar ao ser humano

A tecnologia facilitou muito a nossa vida, mas às vezes ela é colocada como mais importante do que o homem. Não deveria ser assim, diz Steve Wozniak, que fundou a Apple com Steve Jobs.

Em entrevista por telefone à Folha, Woz, como gosta de ser chamado, contou como vê a tecnologia hoje e amanhã.

Ele é o visionário que, em 1976, criou o computador Apple I e, no ano seguinte, o Apple II --cujo sucesso permitiu a sobrevivência da empresa, apesar de insucessos comerciais, e deu fôlego financeiro para o desenvolvimento do Macintosh, em 1984.Hoje, Wozniak ocupa-se com palestras, novas empresas de tecnologia, companhias verdes e projetos com a Nasa.

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FOLHA - Como o sr. vê a interação entre homens e máquinas?

WOZNIAK - Tivemos grandes avanços nos anos 80, quando os primeiros computadores com interface gráfica para o usuário, principalmente da Apple --então Lisa e Macintosh--, surgiram. Eram projetados para que a tecnologia funcionasse de maneira que fosse mais familiar para o homem, mais intuitiva, mais natural.

Mas, hoje, quando você usa um computador, quase sempre precisa aprender a mexer em um software. Você tem essa peça tecnológica, e como utilizá-la? Nesse caso, a tecnologia tem sido colocada como mais importante do que o homem. Nós deveríamos esforçar-nos em entender o homem sem tecnologia, tentar adaptar a tecnologia para o estilo humano.

FOLHA - Qual a importância da portabilidade no futuro da tecnologia?

WOZNIAK - Uma vez que você sabe como fazer algo em sua mesa, é muito bom poder fazê-lo em qualquer lugar. Um laptop nos permite isso, mas há muitas vezes em que eu estou andando por aí sem um computador, e agora eu tenho meu iPhone --ele é o único que realmente chega perto de ser um computador de verdade. Sem dúvida, o futuro é sem fio.

FOLHA - E outras tendências?

WOZNIAK - A web 2.0 tem nos proporcionado muito mais do que jamais tivemos. Há uma energia criativa, apóio muito isso, as pessoas criam coisas, como eu costumava fazer. Uma das principais ferramentas em nossa vida é a enciclopédia, e agora temos a Wikipédia --ela é muito mais certa, segura, exata e abrangente do que qualquer enciclopédia de papel que eu já tive na vida. Observo também a tecnologia de telas e sonho com o dia em que nós as vestiremos sobre as roupas e, com o apertar de um botão, poderemos determinar a cor do nosso casaco. E teremos telas em formas diversas, como em volta de um globo, mostrando o Google Earth.

FOLHA - O que o sr. pensa sobre sistemas de código aberto?

WOZNIAK - Pessoas com os ideais mais elevados estão interessadas em código aberto e têm grandes motivações para trabalhar em benefício do mundo. São puras e distintas da ética comum nos negócios: você é bom para os outros, em vez de desejar uma situação em que os controla e os trata como quiser para conseguir dinheiro. Mas não significa que sejam contra fazer dinheiro. O projeto One Laptop per Child, de Nicholas Negroponte, é uma boa iniciativa --e precisa ser em código aberto. Você não pode dar tecnologia para pessoas pobres e exigir que fiquem presas a uma empresa.

FOLHA - E o uso da tecnologia na educação?

WOZNIAK - A educação não tem sido aperfeiçoada como deveria porque nós ainda não temos software que se assemelhe a um ser humano. Então o computador é basicamente um livro escolar -um livro melhor, por causa da interatividade.

FOLHA - Como o sr. olha para esse movimento verde?

WOZNIAK - É o grande foco de atenção para as próximas décadas, particularmente nos meios de criação e uso de energia.

FOLHA - E para a multimídia e a área de entretenimento?

WOZNIAK - O conteúdo tem problemas para chegar às massas porque as companhias sempre têm um interesse proprietário, querem controlá-lo.

É bom ter escolhas. Temos o Blu-ray, que garante uma experiência prazerosa. E temos, por exemplo, a Apple TV --as pessoas alugam, mas a qualidade não é muito alta. Muitos escolhem conveniência acima da qualidade. Ou o [menor] preço.

Outro problema é o da banda. Pode estar tudo na internet, mas nós temos problemas de banda, ela é muito limitada.


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